Mercado pet em ascensão nos supermercados
18/01/2019 às 10:41

No carrinho vão xampu, escova de dente, petiscos desidratados, biscoitos sem glúten, biscoitos de frutas com mel, filé mignon suíno desidratado e coleira. Ops! Coleira? Sim. Toda essa lista pode parecer, mas não é para humanos. Esses são itens que deve compor o mix completo da loja que queria oferecer uma boa seção de produtos pet. E vai além: casinhas, roupas, sapatos e brinquedos também devem estar à disposição do comprador.  É isso. Os animais de estimação viram membros da família e agora, pode-se dizer que são gente como a gente. Afinal, usam tudo como os humanos e demandam carinho e atenção.

De acordo com dados do levantamento Mercado Pet do Brasil 2018, da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o País possui 132,4 milhões de animais de estimação. A maior população é de cães, com 52,2 milhões de cabeças. Em sequência vêm aves canoras (que cantam) e ornamentais com 37,9 milhões; gatos com 22,1 milhões; peixes ornamentais 18 milhões e outros como pequenos mamíferos e répteis com 2,2 milhões.    

Ainda segundo levantamento da entidade, o faturamento do setor no País em 2017 foi de R$ R$ 20 bilhões, com crescimento de 7,9% sobre 2016. O Brasil participa com 5,1% do mercado mundial do ramo, que foi de 119,5 bilhões de dólares. Está atrás apenas dos Estados Unidos (41%) e Reino Unido (5,3%) e empatado com a Alemanha.

No segmento supermercadista, o número ainda é modesto mas que significa que há um vasto mercado a ser conquistado. Em 2017, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), a seção de Pet representou 0,80% do faturamento global do setor no País.  Pode parecer pouco, mas empata, por exemplo, com a seção de peixaria e é superior à Textil, que ficou com 0,5% em 2017.  Porém, em Minas Gerais, o percentual é mais animador do que a média nacional e representa 1,8% no faturamento da loja. Nos últimos 10 anos, essa participação   oscilando em torno dos 0,8%. A menor nesse período ocorreu em 2009 e 2010, com 0,2% e o pico foi em 2015, com 1,6%. Não há esse mesmo comparativo para o estado mineiro.

Segundo Nelo Marraccini, vice-presidente de Comércio e Serviços do Instituto Pet Brasil, entidade que estimula o conhecimento, empreendedorismo e inovação do setor, o varejo pet, incluindo todos os canais e serviços, chegou ao faturamento de R$ 32,92 bilhões, mas, literalmente, paga um alto preço com a carga tributária. “Para se ter uma ideia, a cada R$1 gasto pelo consumidor final, mais de 50 centavos são compostos de impostos como IPI, PIS/Cofins e ICMS” disse.

Por outro lado, aponta Marraccini, o mix é cada vez mais variado, o que garante o interesse crescente do consumidor pelos produtos voltados a pets, em diferentes faixas de preço, e para diferentes populações de animais de estimação. “Essa variedade de oferta também convida o consumidor (comprador) a explorar mais itens que podem oferecer a seus pets”, sugere.

A maior fatia do mercado é composta pela ração, mas outros itens, como petiscos, brinquedos e roupas também tem importância.  De acordo com o Pet Brasil, a parte de alimentação corresponde 43,8% do faturamento do setor. Produtos de higiene, beleza e bem-estar, corresponde a 9,75% e produtos veterinários ficam com 5,74%. A outra fatia é composta de serviços como venda direta de animais, hotéis, creches, adestradores e serviços veterinários, fora do varejo supermercadista.

O Instituto Pet Brasil apurou que o gasto mensal com cães no País é de R$ 338,76. Cães pequenos, até 10 quilos, geram um gasto mensal de R$ 266,18. Os médios, de 11 kg a 25 quilos, R$ 327,51. Já cães grandes, de 26 kg a 45 kg, geram um gasto mensal médio de R$ 422,59. Em relação aos gatos, o gasto médio é de R$ 196,56 mensais.

Ainda segundo o instituto, os supermercados representam 6,1% das vendas dos itens pet, cabendo aos canais especializados a fatia de 80,9% da preferência do consumidor. Outros canais detêm o restante das vendas. “Pela primeira vez em nosso levantamento, o varejo eletrônico especializado em pets pontuou. Isso é interessante porque mostra uma nova tendência de consumo que representa 2,7% do faturamento” disse Marraccini.

 

Nos supermercados

No ponto de venda do varejo supermercadista, o grande atrativo da “cesta pet” são o baixo índice de perdas e quebras e as margens que podem se aproximar de 50% em algumas redes.  No entanto, há um desafio para a promoção dessa linha no setor de supermercados, porque o consumidor é barrado na porta. É que é proibida a entrada de animais em supermercados com diferentes dispositivos legais por estados ou municípios.  Logo, ações como banho e tosa, demonstração de algum item seria impossibilitada dentro no ponto de venda. Com isso, “o melhor amigo do homem”, não pode tomar “um cafezinho”, ou experimentar um biscoito no ponto de venda, como ocorre com os humanos.

Ações para apresentar uma nova marca de produtos ficam prejudicadas.  Algumas marcas até disponibilizam amostras grátis para os supermercados, mas ainda é pouco para um mercado que tem muito a mostrar. Uma solução pode ser montar quiosques no estacionamento, por exemplo, para promover o produto em parceria com a indústria.  Empresas que investem em centros comerciais, com lojas “satélites” podem apostar também em lojas de ração nessas galerias.

A rede Bernardão, com sete lojas nas cidades de Araxá, Patos de Minas e Patrocínio, no Alto Paranaíba, trabalha com uma linha diversificada que inclui produtos de higiene, comedouros e acessórios, estes em menor número. Segundo o sócio-proprietário Marco Antônio Bernardes, a linha “já” é importante para a loja e tem um papel que vai além do atendimento ao cliente.  “Não é nosso objetivo somente atender o cliente na falta, mas sim, tratamos a seção como geradora de fluxo também”, disse.

Ele informa que a seção tem seu espaço definido na loja e ainda não foi possível fazer uma exposição ou planejar a venda cruzada. Mesmo assim, a linha de pet tem peso importante para as lojas da rede. “A seção traz margem acima de 40% e ajuda a rentabilizar o negócio como um todo, visto que a participação cresce a cada dia”, detalha.  

Nas 50 lojas da rede Bahamas na Zona da Mata, Alto Parnaíba e Triângulo, cinco fornecedores compõem o mix dos 107 itens comercializados nas bandeiras de atacarejo, Empório (gourmet), supermercados e hipermercados.  Como é de se esperar, no atacarejo a procura é maior pelas embalagens de 10 quilos e 20 quilos, enquanto os demais formatos vendem mais as embalagens de um e cinco quilos.  A rede ainda não trabalha com a linha de  calçados, roupas e acessórios, mas tem toda linha de alimentos e higiene e limpeza, como xampu, condicionador, desinfetante, para cães gatos e pássaros.

O comprador da linha pet do Grupo Bahamas, Carlos Augusto Menezes, diz que, de 2017 para 2018, a linha de alimentos para cães cresceu de 10% a 15%; para gatos, na casa dos 5% e os produtos de higiene como desinfetante, de 8% a 10%. A margem de lucro fica em cerca de 20%.  “É uma linha muito importante para o setor e a gente percebe que está crescendo”, observa.

Nos dois supermercados da Cooperativa Agropecuária do Vale do Paracatu (Coopervap) em Paracatu e em Guarda Mor, no Noroeste de Minas Gerais, a participação da seção pet nas vendas totais da loja é mais do que o dobro da média nacional e oscila pouco, ficando em 1,7% a 1,8%. Mas o mix é composto de praticamente toda a linha para os animais de estimação. Desde ração, dos mais variados tamanhos de embalagens, brinquedos, itens de higiene até casinhas para cães são bem expostas num dos principais corredores da loja.

De acordo com o gerente Comercial da Coopervap, Carlos Alberto Kraemer, o “carro-chefe” da seção é ração em sacos de 20 quilos da marca líder de mercado. Mas ele percebe que as vendas de outros itens vêm crescendo a cada ano exatamente pela “humanização” dos animais. “A gente vê hoje que o cliente cuida do cachorro como se fosse um membro da família”, pondera.

Kramer conta que mandou fazer gôndolas mais estruturadas para a seção. Na parte mais baixa, até a altura de 1,1 metro, são colocadas as embalagens maiores, e na parte mais alta são colocados os pacotes menores como os de até cinco quilos. Itens como bola, coleira, xampu e rações para pássaros ficam em outra gôndola mais à entrada da loja.  Kramer calcula que tenha cerca de 20 fornecedores para toda linha entre ração, casinhas produtos antipulgas, anticarrapatos e itens de higiene.  Produtos que contribuem com a boa imagem e a margem da loja. “Dá um bom retorno e puxa a margem para cima”, informa.   

No supermercado que tem a maior venda por metro quadrado no estado, o LS Guarato, em Uberaba, não poderia faltar uma boa seção pet. Segundo o supervisor de loja, Cristiano Luis Santos, no início, a ideia era apenas atender o cliente, mas hoje a categoria “tem sua participação no faturamento.” Em média, são 400 itens compostos de alimentação, higienização de ambiente, higienização do animal, como fraldas, lenços umedecidos, xampu, condicionadores, e entre outros. A exposição é em um ambiente separado para categoria, mas não fica só nisso. “Fazemos campanhas de amostras grátis e pontos extras”, informa. A  maneira de trabalhar a seção não difere muito do que é feito com itens diversos para humanos. Segundo o supervisor, deve-se ir “observando as tendências que o consumidor exige e adequando o mix”, sugere. 

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